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Áudios comprovam praticas de corrupção de Bolsonaro quando era deputado




Desde 2019, o senador Flavio Bolsonaro (Patriotas-RJ) é investigado pela prática de rachadinha no período em que foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Outros indícios já mostraram que o crime, uma espécie de corrupção, também envolvia Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ(. Nesta segunda-feira (5), o UOL revelou áudios que indicam que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), também estava envolvido na prática de corrupção quando era parlamentar.

A prática de rachadinha consiste em recolher parte dos salários dos funcionários do gabinete para si. No caso da família Bolsonaro, os assessores empregados não trabalhavam de verdade e funcionavam apenas como laranjas.

Os áudios revelados pela colunista Juliana Dal Piva são da ex-cunhada de Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, irmã de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair e mãe de Jair Renan, o 04. Na gravação, Andrea revela que Bolsonaro demitiu o irmão dela, André Siqueira Valle, porque ele não queria devolver a quantia prometia ao então deputado. Esse seria o primeiro indício de que Bolsonaro estava pessoalmente envolvido.

Na mensagem de voz enviada por Andrea a um destinatário que não foi revelado, ela conta que Jair Bolsonaro demitiu André do gabinete porque ele não quis devolver ao então deputado o valor combinado, correspondente a quase 90% do salário.

“O André dava muito problema, porque o André nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, o André devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil”, detalhou a ex-cunhada. “Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele, porque ele nunca me devolve o dinheiro certo.’”

André Valle trabalhou como assessor de Jair Bolsonaro entre 2006 e 2007, mas foi exonerado por não cumprir com o combinado.

Nas gravações reveladas pelo UOL, Andrea Siqueira Valle diz que pode “ferrar a vida do Flavio, posso ferrar a vida do Jair, posso ferrar a vida da Cristina. É por isso que eles têm medo e manda eu ficar quietinha”.

As declarações de Andrea teriam sido feitas a duas pessoas, ouvidas pela colunista Juliana Dal Piva, entre 2018 e 2019. Os áudios foram entregues à reportagem por uma delas.


O que diz a defesa de Bolsoanro



A reportagem do UOL procurou Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro. Wassef negou que Bolsonaro esteja envolvido em ilegalidade e disse se tratar de uma antecipação da campanha eleitoral de 2022.

Sobre os fatos apresentados por Andrea, o advogado alegou que “são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes” e que “jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos”.

Apesar de o portal ter atestado a veracidade dos áudios, Wassef afirmou que trata-se de uma “gravação clandestinas” e disse que não houve perícia.
Posts misteriosos

Na noite do último domingo (4), o presidente Jair Bolsonaro fez uma série de postagens misteriosas nas redes sociais. Nas publicações, ele falava sobre “uma autoridade filmada” que estaria sendo chantageada.

“Essa prática de chantagem, muito utilizada em Cuba, se encontra na página 143 do livro ‘A vida secreta de Fidel’ de Juan Reinaldo Sánchez. Parece que isso está sendo utilizado no Brasil (importado de Cuba pela esquerda) onde certas autoridades tomam decisões simplesmente absurdas, para atender ao chantageador”, escreveu Bolsonaro.

“Quando nada têm contra seu alvo principal, vão para cima de filhos, parentes, e amigos do mesmo. Inquéritos e acusações absurdas, ... Daí quebram sigilos, determinam buscas e apreensões, decretam prisões arbitrárias, etc...”, diz o presidente nos posts.

A suspeita é que o post dissesse respeito aos áudios revelados pelo UOL.
O que é rachadinha

Segundo o advogado criminalista Flavio Grossi, especialista em direitos fundamentais pela Universidade de Coimbra, a prática ilícita consiste em dividir os vencimentos de servidores públicos, geralmente em troca de algum benefício.

“Por exemplo: digamos, hipoteticamente, que eu seja parlamentar e uma pessoa me procura querendo muito a nomeação para um cargo. Eu o nomeio para o cargo, de forma lícita, porém, por debaixo dos panos, eu determino que, em troca, o salário que a repartição pagar a ele será dividido entre ele e algum parente meu, ou até mesmo entre outro servidor”, explica.

Ele reforça que, normalmente, os contratados funcionam como laranjas para o recebimento de parte do dinheiro. Ou seja, não são funcionários que efetivamente exercem o serviço pelo qual foram contratados para fazer, apenas ocupam o cargo para fazer parte do esquema ilegal.

O advogado ainda explica que todos os envolvidos no esquema podem ser responsabilizados: quem determina que a divisão do dinheiro seja feita, os que repassam o dinheiro e também quem recebe o dinheiro de forma ilegal.

“Não há dúvidas de que a chamada ‘rachadinha’ visa o recebimento ou obtenção de vantagem ilícita por parte de alguém. Para se chegar a isso, a fim de maquiar toda a estrutura, várias pessoas podem estar envolvidas e todas elas podem ser responsabilizadas”, afirma Grossi.

Fonte: UOL

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