"Dizem algumas lendas, que ao sentir medo de algo que não é real, aquilo ganha forças, e se torna real no lugar. Se você se arrepiar quando ler isso... Rezo para que não seja o mais novo da sua casa e muito menos que tenha um armário no seu quarto..."
-Toc toc... toc toc... toc toc...
Foto: Pesquisa pública do Google |
-Para maninho! -Disse Giorge.- Você sabe que tenho medo.
-Então levanta da porra dessa cama Giorge! -Dizia João praticamente gritando.- Você sabe que se não formos tomar café, a mamãe vai brigar.
Giorge então se levantou, era aniversário dele, de oito anos e o de quatorze de João. Os dois se arrumaram, tomaram café e foram para o colégio.
Eles moravam com sua mãe Clara desde que nasceram, nunca chegaram a conhecer seu pai. Dizia Clara que este fora preso, solto e preso novamente.
João era o tipo de irmão que vivia assustando o irmão caçula com histórias de terror, que para Giorge já eram muito assustadoras, ainda mais quando eram baseados no armário do quarto dele.
A mais assustadora era do "Demônio Toc-Toc". Sempre que iam dormir, João falava que uma pessoa mais velha que morre em uma casa virava demônio e se escondia no armário dos mais novos, falando coisas como "seu idiota, babaca" ou fazendo coisas como brincadeiras idiotas. O demônio toc-toc ficava batendo na porta do armário até a criança abrir e ser pega, sendo torturada, e o demônio rasgar suas cordas vocais para que não gritasse e depois rasgar todos os membros do seu corpo e arrancar suas tripas, até você morrer agonizando e sufocando-se no seu próprio sangue.
Olha, esse tipo de história assustaria mesmo uma criança de oito anos mas, irmãos né.
No colégio Giorge estudava obviamente em uma sala diferente de João por causa de suas respectivas idades. Mas, naquele dia, João saiu mais cedo por falta de professores nas aulas, então logo Giorge voltaria sozinho para casa.
O dia foi relaxante, com poucas atividades e um bom lanche no recreio. Hmm, bolacha com yorgute de morango, que delícia imaginou Giorge, mas, fora tudo isso o clima estava estranho, não o clima de tempo, por que onde moravam sempre chovia e estava chovendo mas, era algo no ar, nos pensamentos do caçula, ele estava fazendo algo que normalmente não fazia, pensar no pai dele. Como sera que ele é? Por que foi preso? Será que ja morreu? E o mais apavorante pensamento dele, será que o pai dele havia se tornado o demônio toc-toc se tivesse morrido?
Ele voltou para casa cantarolando só esperando para comer mais os biscoitos que fazia junto com sua mãe Clara. Mas, as coisas não foram como ele queria...
Ao abrir a porta, se virou de costas e trancou-a. Andou até a sala e viu o chão todo cheio de sangue, o odor penetrou em suas narinas de uma forma, que quase o fez vomitar. Logo avistou uma letra "G" pintada na parede no pé da escada e mais acima uma letra "I". O pavor passou pela sua cabeça, seu coração começou a acelerar, fazendo até mesmo seus cravos sumirem de tão embranquecido que ficou. Um "O" no chão da escada, e ele já não pensava mais com clareza. Um "R" na parede do corredor, e ele sussurrou "mãe" esperando uma resposta. Mais um "G" na porta do quarto da mãe, e ele sussurrou o nome do irmão. Abriu a porta e vomitou ao ver o corpo da sua mãe numa poça de sangue enorme, desenhando a letra "E".
-João! Joããoo! -E agora sussurrando...- Maninho?
-Gioge! Não olha a mamãe, vem pro quarto agora!
Giorge correu até seu quarto e viu João sentado na cama chorando, soluçando e falando baixinho.
-Mano, foi ele, me desculpe, não devia te assustar, foi ele, foi o demônio, a mais nova da casa era a mamãe, e ele a matou, agora nós estamos aqui, ele vai pegar você que é o mais novo, o caçula, mas... mas... mas eu não vou deixar, eu juro... EU NÃO VOU!
E assim, escutaram "PAM, PAM, PAM" na porta de entrada da casa. Correram para debaixo da cama, ouvindo lá de baixo que era a polícia mas, João disse que ela não deveria chegar tão rápido.
Num estouro enorme os dois correram para dentro do armário, em um extinto de se esconderem melhor. João ficou sentado com as pernas abertas e Giorge de joelhos entre as pernas do irmão, chorando e abraçando João, enquanto apoiava a cabeça no ombro dele.
João falava coisas confortantes, que nunca havia falado, como:
-Eu te amo, o demônio não vai te pegar, me desculpa, eu vou cuidar de você agora!
Giorge ouvia os passos no corredor, no mesmo momento em que viu uma faca cheia de sangue na parte de tráz da cintura do irmão mais velho. João colocou a mão na faca e o gelo no corpo de Giorge foi tão grande que se ele soubesse o que era hipotermia, acharia que estaria com isso agora.
O mano chegou no ouvido do Giorge e sussurrou tão baixinho. Mas, aquilo para o caçula pareceu um grito...
... (som ofegante) ... E então João disse:
-Toc... Toc...
Por Patrick dos Santos
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Patrick dos Santos é um jovem colombense de 19 anos, estudante no Colégio Estadual Antônio Lacerda Braga cultiva o sonho de ser escritor e é administrador da pagina Caláfrio no facebook
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